sábado, 12 de fevereiro de 2011

Depoimento de Joca sobre 9/2/11 - BR

Quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011: Tartaruga na rede!




Mais um dia surge e o sol se levanta sobre nossa base ao sabor da maresia e do quebrar das ondas de Itapirubá. Sopra vento Nordeste e incidem ondas de Sudeste, o que significa que rumaremos mais uma vez até a Praia da Galheta em Laguna, como ontem, uma área auspiciosa nestas condições meteorológicas. Tomamos café da manhã e aprontamos mochilas, água, mantimentos, rede, neoprenes, nadadeiras e saímos para pegar o ônibus às 9 h em frente à Igreja.

Boa parte da viagem transcorre ao som de rap e funk carioca devido ao apurado gosto musical de um "DJ do ônibus" anônimo, fruto do incessante avanço tecnológico que traz num celular uma infinidade de funções desde câmeras, mp3, internet, mas não traz o "simancol" necessário para não incomodar o passageiro ao lado.

Descemos no Terminal Rodoviário de Laguna às 9 h 45. Pegamos o ônibus em direção ao Farol de Santa Marta às 10 h 20, cruzamos a curta distância do estuário de Laguna (+- 250 m) com uma balsa, seguimos de ônibus pela estrada de chão batido e descemos, por fim, na praia da Galheta às 11 h 10. Caminhamos cerca de 30 min em direção à praia, cruzando um largo campo de dunas e as pedras do costão rochoso até chegarmos à baía do Morro da Galheta. Gustavo e Bruno foram conversar com os pescadores que estavam retirando o pescado do barco e ajeitando seus petrechos de pesca. Enquanto o restante da equipe descansava e avistava o Farol de Santa Marta ao longe e os biguás que pescavam na baía. Gustavo contou sobre o projeto de estudo das tartarugas da região de Santa Catarina e que estávamos ficando em Itapirubá. Ao falar que recebíamos dicas de seu Lorinho quanto aos melhores locais para encontrar tartarugas, houve maior simpatia pelo projeto por parte dos pescadores devido ao renome de seu Lorinho. Em seguida, todos fomos chamados para ver os peixes que foram pescados, dentre eles abrótea, pescada, e fomos presenteados com 5 exemplares. Ainda havia junto ao pescado espécies bastante peculiares como o peixe-morcego, o caranguejo-ermitão e o caranguejo-aranha.

Despedimo-os dos pescadores e seguimos para a ponta do costão rochoso. Dali Gustavo e Bruno abriram a rede dentro da água enquanto Matias segurou o cabo que estava atado à outra ponta da rede. A ideia era que eles sentissem a força do mar e os pontos de maior ou menor corrente, experimentando diversos ângulos em relação à ondulação. Quando colocaram a rede cruzando a entrada da baía, houve uma explosão de alegria: algo estava preso na rede. Porém a alegria não durou muito. Gustavo foi checar a rede e descobriu um belo exemplar de arraia com seu temível ferrão. Passados poucos minutos, Gustavo conseguiu desvenciliar o animal e devolvê-lo à liberdade das águas. Os planos mudaram quando foi avistada uma tartaruga que se aproximava da praia beirando o costão. A partir daí o objetivo foi fazer um arrasto em direção à praia para tentar capturá-la. Ao fim do arrasto, porém, não conseguimos pegar nenhuma tartaruga.

Juntamos a rede e partimos mais uma vez até a ponta do costão. Desta vez Guillermo e Bruno entraram com a rede na água. Recém colocada a rede, já avistávamos muitas tartarugas a sua volta. Os rapazes que seguravam a rede na água sinalizam que a rede capturou algum animal. De pronto Gustavo foi averiguar o que era, levantando o chumbo até o local onde o animal está emalhado. Seria uma tartaruga, demarcando o fim do jejum de uma semana sem capturá-las ou mais uma arraia que se intrometia em nossa busca? Segundos de apreensão se fizeram sentir enquanto Gustavo chegava até o animal, até que ele começar a entoar o cântico oficial da Copa do Mundo 2010: "ô ô ô ô ô, ô ô ô ô ô ô, ô ô ô ô!", sinal de que uma tartaruga fora capturada!! Lá estava ela, a primeira tartaruga da temporada de verão em Itapirubá, depois de uma semana de tentativas!! A tão esperada tartaruga passou de mão em mão até a terra firme: de Gustavo para mim e de mim para Leticia. Enquanto isso Bruno e Guillermo continuavam firmes segurando a rede.

Em seguida, eu medi as temperaturas da água e do ar e Gustavo e Catalina observaram os parâmetros abióticos (nebulosidade e período de ondas). Mas não desgrudávamos os olhos da superfície que continuava nos presenteando com o aparecimento de tartarugas.

Gustavo e Catalina entraram na água enquanto Leticia segurava ainda a tartaruga. Passaram-se mais alguns minutos, porém sem sucesso de captura. Chegava a hora de tirar a rede da água. Foi feito um arrasto em direção à praia, sem êxito na captura. Leticia levou a tartaruga até a praia, onde fizemos as medições e fotos necessárias e a colocação de uma marca de identificação. Por fim todos juntos fomos soltar a tartaruga na beira do mar desejando sorte e muitos anos de vida à então batizada Esperança.

Em seguida partimos em marcha a passos largos rumo à estrada para pegar o ônibus de volta a Laguna e depois para Itapirubá. O dia vai chegando ao fim, nuvens carregadas se aproximam, muita água deve rolar e fica o sentimento de que para se pescar esperança tem que saber esperar.

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